quarta-feira, 7 de abril de 2010

BAIXA RENTABILIDADE DESESTIMULA PRODUTOR

A entressafra, que começa no segundo semestre, poderá dar início à migração de pelo menos 100 famílias de Nova Esperança para a zona urbana.

A expectativa não é otimista para a produção de bichos da seda em Nova Esperança (a 47 quilômetros de Maringá). Até o fim deste semestre, a Empresa Brasileira de Extensão Rural (Emater) do município estima que até cem famílias poderão abandonar a atividade.

Segundo o técnico agrícola Oswaldo da Silva Pádua, dois motivos delineiam esse cenário: o efeito da crise financeira mundial sobre o segmento, que fez cair o volume de exportações, e a perda frequente de parte da produção por conta da pulverização aérea de inseticida sobre os canaviais mais próximos.

Na opinião de Pádua, se a previsão de desistência se concretizar, muitas das famílias poderão migrar para a zona urbana. “Não haverá empregos para todos e haverá redução dos recursos que saem desse segmento para movimentar o comércio local”, avaliou. As cem famílias previstas correspondem a aproximadamente 15% de todos os produtores envolvidos na produção do bicho da seda em Nova Esperança.

A previsão é para o fim deste semestre porque será o período em que os produtores estarão na entressafra. Eles criam o bicho da seda entre setembro e maio, entregando, geralmente a cada 30 dias, uma nova remessa de casulos verdes, do qual são extraídos os fios de seda, para empresas da região.

Estas vendas garantem salário por até oito meses. Na entressafra, a situação é diferente, pois as famílias têm de sobreviver com o dinheiro que sobrou. O problema é que o rendimento mal está cobrindo os custos.

O produtor Antônio Negrini, 60 anos, considerou que a produção do bicho da seda está passando pelo pior momento. Em janeiro deste ano, ele perdeu uma criação inteira. “Foi a primeira vez que isso me aconteceu desde 1999, quando comecei a investir nesse ramo”, afirmou.

De lá para cá, Negrini contou que a perda mensal da produção do bicho de seda foi de cerca de 40%. A situação de falta de perspectivas faz com que ele pense em cultivar apenas mandioca, que já ocupa oito dos 30 alqueires da propriedade.

Apenas cinco alqueires são destinados hoje à criação do bicho da seda. “Mandioca dá menos trabalho e mais dinheiro”, afirmou. No campo, ele começou trabalhando com gado. Depois, migrou para o bicho da seda, que era lucrativo antigamente. Ao lado dele trabalham a mulher e dois filhos.

A mesma desilusão está na fala do produtor Daniel de Andrade, 54 anos. Desde 1977 nesse segmento, ele relatou que os dois filhos não querem trabalhar com o bicho da seda. “Eles veem a situação em que estamos e preferem procurar um trabalho na cidade (zona urbana)”, afirmou.

Todo o mês, ele disse vender cerca de 250 casulos verdes para uma empresa, mas dificilmente tira mais do que R$ 1.150. Para a entressafra, ele considera a possibilidade de pedir salário-desemprego ao governo. “Precisamos sobreviver.”

O Diário entrou em contato com a unidades da Usina Santa Terezinha em Maringá, Iguatemi e Paranácity. O gerente agrícola da unidade de Iguatemi, Marcelino Takaoka, foi o único a dar explicações. Ele disse que a unidade aplica apenas maturadores, que não são nocivos ao bicho da seda.

Além disso, segundo ele, o controle da broca, uma praga da cana, não é feito com produtos químicos, mas, sim, com a vespa cotesia. “Não recebemos nenhuma reclamação dos produtores sobre as aplicações”, disse.

FONTE:O Diario do Norte do Paraná

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