Fonte: O DIARIO DO NORTE
Quando criança, Maria Cristina Vieira se comunicava com uma das primas somente por versos.
Mais de 30 anos depois, o mesmo estilo literário é o recurso que conduz histórias infantis povoadas por simpáticos personagens que retratam situações do universo da saúde, ambiente de rotina diária da pedagoga e técnica de enfermagem há 13 anos.
O trabalho artístico de Maria Cristina teve início com pinturas em alas pediátricas de hospitais em Maringá.
Antes disso, as tentativas de alegrar os pacientes e contribuir para a humanização do ambiente hospitalar incluíam desenhos nas fitas crepes que prendem as agulhas para aplicação de soro ou remédios nos punhos dos pacientes, nos cordões para bexigas feitos do mesmo material e no sorriso sempre disponível e bem-vindo onde a dor está instalada.
"No começo era difícil lidar com o sofrimento do paciente e as exigências da função", diz.
O amparo encontrado na arte, que no primeiro momento se manifestou apenas na pintura, passou a ganhar a companhia dos versos com a poesia "A Janela", escrita em 2004.
Da copa do hospital em que trabalhava, Maria Cristina observava um rapaz na porta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) chorando pela esposa que havia morrido.
"Eu estava recém-separada e me dei conta do que realmente era motivo para sofrimento. Minha dor não era nada", afirma.
As histórias da artista plástica combinam experiências do trabalho com orientações de cuidados com a saúde.
"Paixão pela Lua", por exemplo, aborda a necessidade de respeitar o tempo para que o organismo vença a doença. Em "Jardim Encantado", o tema é o câncer e a importância do apoio de amigos e familiares para enfrentá-lo.
A história que ensina o socorro correto a uma suspeita de lesão na medula foi inspirada por um caso atendido no hospital em que trabalhava. O jovem estava participando da festa em comemoração à formatura do primo e foi jogado na piscina.
Na queda, fraturou a coluna cervical e foi socorrido pelos parentes, mas ficou paraplégico. Na história que escreveu inspirada por essa fatalidade, Cristina garante ao personagem um socorro adequado feito por profissionais, com direito até a colar cervical durante o transporte até o hospital.
"A imaginação pode tudo, mas tem de ensinar o que é correto", acredita.
Maria Cristina quer publicar livros com as histórias em um futuro próximo. Enquanto esse dia não chega, ela vai refinando o talento que pretende estampar em páginas coloridas, produzindo peças artesanais com os personagens que criou. Camisetas, puxadores de armários e gavetas, quebra-cabeças e saboneiteiras são criações recentes.
Uma das intenções é centralizar em um único personagem a abordagem dos diversos temas sociais e de saúde que são a essência de sua arte, como doação de órgãos, obesidade, violência doméstica, trabalho escravo infantil, entre outros.
A nobre missão deverá ser cumprida por um personagem deficiente já escolhido. "Ele é especial", diz ela. O talento também.
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