Fonte: Revista Veja
Marina Silva, 52 anos, pode não ter base partidária importante, fartos recursos de campanha nem espaço para crescer. Mas tem uma coisa que faz qualquer adversário morrer de inveja: bandos de jovens encantados com seu discurso e sua personalidade, dispostos a erguer as mangas dos moletons, de marca, e gastar as solas dos tênis, de grife, para nadar contra todas as evidências pré-eleitorais e elegê-la presidente. Ainda por cima, eles se dispõem a fazer tudo isso na moral, muitas vezes bancando pequenas despesas, e na maior animação - lembram-se de um partido que no passado distante era assim? São os "marineiros", como se autodenominam os defensores da candidata do Partido Verde, em geral jovens das classes média e alta que estudaram em bons colégios, seguiram profissões conectadas à modernidade e têm na causa ambiental a maior, se não única, energia mobilizadora. Sem hesitação, declaram-se unanimemente a-pai-xo-na-dos por Marina. E provam. O carioca Eduardo Rombauer, hoje com 30 anos, é marineiro de primeira hora. Quando ainda estava no Ministério do Meio Ambiente, em 2007, Marina dava uma palestra em Brasília quando percebeu alguns estudantes, Rombauer à frente, que distribuíam broches com seu rosto pintado. Mandou pedir que parassem. Dois anos depois, em outra palestra, lá estava o grupinho de Rombauer, que pediu e obteve uma conversa com ela. "Lembra dos broches? Fui eu que fiz. Agora, vou retomar a campanha pela sua candidatura. Nem que a senhora não queira", relembra o carioca insistente. "Ela disse: ‘Menino, faça isso, não. Vai me dar problema para mais de metro’." Rombauer foi em frente e criou o Movimento Marina Silva. "Cinco meses depois, o PV a convidou para ser a candidata do partido à Presidência. Não tenho dúvida de que isso aconteceu por nossa causa." O movimento atualmente tem 20 000 seguidores virtuais.
Com seu jeito habilidoso de falar e a tranquilidade de quem só tem a ganhar numa eleição que a projetará como personalidade carismática, mesmo com os atuais 12% de preferência de votos, Marina afaga os fãs. "Os jovens são portadores naturais da antecipação do mundo. Enquanto a gente vai consolidando uma experiência, eles desequilibram tudo, e buscam outra coisa. É isso que faz com que o mundo não pare", diz. Pesquisadores políticos acompanham com interesse a campanha espontânea em favor de Marina. "Esta disputa tem dois candidatos mais velhos, que remetem ao século XX. Quem traz uma conversa nova para esses meninos é a Marina", diz Antonio Lavareda, profissional do marketing político. Um exemplo: referências à militância contra a ditadura, constantes das biografias de José Serra e Dilma Rousseff, tendem a provocar efeito zero, quando não rejeição, nessa parcela do eleitorado. "A gente quer pensar no futuro, não no passado. Eu respeito, mas para mim é só um jeito de colocar alguma qualidade na Dilma, que não tem nenhuma. A Marina é o nosso Obama, a nossa esperança", exalta Matheus Braz, 16 anos, de Ilhéus, Bahia, que se apresenta como "web ativista" da candidata. "Eu descubro pesquisas e links sobre ela e passo para os outros. Gasto duas horas por dia nisso. Mas faço de uma maneira consciente, sem entupir a caixa postal das pessoas", explica. Outras ações espontâneas têm o mesmo ar de cativante ingenuidade só permissível em candidaturas alternativas. A produtora de objetos para cinema Camila Tarifa, paulistana de 25 anos, fez uma vaquinha entre os amigos e mandou confeccionar por bordadeiras da Paraíba, claro que de uma comunidade carente, 200 bonequinhas em forma de broches. "Elas serão marininhas, e virão com coque e xalezinho, como ela", descreve Camila.
Para os marineiros, todo argumento potencialmente desvantajoso para a candidata dispara logo um contra-argumento. Marina tem poucas intenções de voto e nenhuma probabilidade de ganhar as eleições? "É porque ela só é conhecida por 25% das pessoas. Tem gente que ainda a confunde com a Heloísa Helena. Mas, quando os outros 75% a conhecerem, vão todos gostar dela", rebate Rombauer. Marina é evangélica, da Assembleia de Deus, e sabida e publicamente contrária ao casamento gay? "Ela não vai colocar sua fé acima de tudo. Vai fazer plebiscitos e, se a população for a favor dessas questões, vai aceitá-las", acredita o cineasta Victor Fisch, 25, inventor de peculiar ação de marketing pró-Marina. "Chamo de guerrilha de elevador. Se estou num com minha mulher e uma terceira pessoa entra, começo a dizer para a Camila: ‘Hoje eu vi aquela tal de Marina na televisão. Ela é boa, viu? Devemos prestar mais atenção nela’."
Outro público junto ao qual a candidata faz sucesso é o das socialites ambientalmente esclarecidas. Quem a introduziu nessa floresta foi a paulista Ana Paula Junqueira, 39, uma espécie de anti-Marina: rica de berço, milionária por casamento, usuária de grifes de altíssimo luxo, frequentadora de festas famosas de todos os continentes. Ana Paula tem pretensões políticas - atualmente, ambiciona uma candidatura a deputada federal pelo PV - e deu uma festa para apresentar Marina a seu círculo de amizades. Como nas altas-rodas da Califórnia, teve até lama tibetano na festa. Com a candidata, diz ter aprendido muita coisa, "inclusive a melhorar os meus speeches. Agora, na hora de falar, falo com o coração". Na sua opinião, "Marina só se compara a Mandela" - a quem conhece pessoalmente, aliás. Outra entusiasta, a joalheira chique Elisa Stecca, 46, doou joias para um leilão de arrecadação de fundos para a campanha do PV e tem motivos astrológicos para seu engajamento: "A era de Aquário, de que tanto se fala desde os anos 60, agora chegou, com Marina".
Criada num seringal no Acre, em meio a dificuldades inimagináveis mesmo para os muito humildes, Marina circula com naturalidade nesses meios rarefeitos. Para os que a consideram uma espécie de avatar reencarnado, ela reserva a surpresa da vaidade saudável. "Minha avó sempre dizia: ‘Minha filha, mulheres que não são avantajadas nem em cima nem embaixo têm de ter pelo menos a cintura fina’", explica sobre os cintos marcantes. E o coque onipresente? "É porque meu cabelo está muito branco e disseram que eu pareço uma alma", ri. De salto alto e maquiagem de uma marca japonesa (tem alergia às outras), ela se considera, sim, elegante. "Acho que eu estou bem na foto", define. Visto que pesquisas do PV indicam que 60% de seus eleitores têm entre 18 e 44 anos e estão dia e noite na internet, Marina, que usa o computador basicamente para mandar e-mails, entende a importância da web e agora tem um assessor de Twitter. Melhor do que isso, só a espontaneidade de apoios como o de Renata de Azevedo e Rangel Mohedano, ambos de 29 anos, engenheiros ambientais, que se casaram no começo de maio e, junto com os bem-casados, distribuíram adesivos dela. "A Marina faz parte da nossa história como casal e como indivíduos", explica a noiva, numa linguagem tipo assim totalmente marineira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário