Na tarde de ontem fui procurado pela competentíssima
Médica Bruna Gimenes Rolim ,Médica
Prestadora de Serviços ao Município de Nova Esperança, onde mostrou toda a sua
indignação com a situação de nosso Município no quesito Saúde, a mesma deixa na
data de hoje de prestar serviços a essa comunidade, porém deixa uma
carta que segue abaixo, leia com atenção e veja o que vem acontecendo em nossa
cidade.
Administração
e Desenvolvimento da Saúde no Município de Nova Esperança
Senhor Secretário
da Saúde,
1
- O Secretário da Saúde deve ser uma pessoa mais acessível à população e
principalmente aos seus funcionários da saúde, estando presente em seu gabinete
grande parte do tempo, o que não acontece neste momento de transição política.
De acordo com os princípios
organizacionais do SUS, se preconiza a existência de um gestor em cada
instância do poder público, ou seja, uma figura responsável pela articulação,
administração, gerenciamento, desenvolvimento e toda a gestão inter-setorial,
inter-pessoal e multi-profissional da rede de saúde, seja nos Municípios,
Estados ou União. O gestor também é responsável por fazer cumprir todos os
princípios do SUS – princípios estes que o nosso Secretario deve ter acesso e
ter conhecimento integral.
2 - Já no primeiro mês de trabalho,
nosso Secretario da Saúde, delegou que todos os postos de saúde deixassem de ter
atendimento agendado e que isto seria determinação do Prefeito do município.
Ora, quais estudos foram feitos para se determinar algo tão precocemente? Há
comprovações do que seria melhor para a população e a atenção primária na saúde
que os Programas Saúde da Família devem exercer? Afinal, quem entenderia mais e
deveria gerenciar a saúde: um Prefeito, com centenas de atribuições, ou um Secretário
da Saúde, enfermeiro e que tem como única atribuição gerenciar a saúde do
município? Mudanças no primeiro mês de mandato são descabíeis e completamente
precipitadas, já que primeiramente o secretario deve entender bem como funciona
a saúde do município em que irá iniciar seu trabalho, conhecer a população e
seus funcionários. A criatividade e a inovação fazem parte do processo do SUS,
porém, como vemos nas orientações do ministério da saúde: “Na maioria das vezes, o início de determinado projeto não é precedido
de uma detalhada verificação da demanda de infraestrutura necessária a seu
desenvolvimento. Em conseqüência da falta de planejamento e adequação dos meios
e instrumentos necessários, não é raro o seu fracasso por motivos perfeitamente
evitáveis. Chamar a atenção para este detalhe é uma preocupação que deve
permear todas as ações de um gestor do SUS.” Se a prioridade é diminuir a
demanda do Hospital Municipal, não é deixando os PSFs de portas abertas que o
problema será solucionado – ressalto o nome PROGRAMA SAUDE DA FAMILIA e não
PRONTO ATENDIMENTO. A população precisa ser educada e informada sobre que é
emergência, o que é urgência, o que deve ser atendido em Pronto Socorro e o que
deve ser atendido em PSF. Palestras, panfletos e até mesmo cartaz explicativo
na porta do Pronto Socorro são alternativas utilizadas em vários municípios. A
redução da demanda hospitalar de casos simples depende sim dos PSFs, já que o
próprio Ministério da Saúde nos informa: “Sabe-se
hoje que as ações educativas e de prevenção, aliadas aos atendimentos mais
freqüentes, considerados ações da atenção básica ampliada, resolvem 85% dos
problemas de saúde da população. Isso significa que o investimento na atenção
básica previne o adoecimento ou o agravamento das doenças. Assim, a qualidade
de vida da população melhora e tendem a diminuir
os gastos com procedimentos de média e alta complexidade.” Com isso,
sabemos da importância no seguimento de pacientes em conjunto com Agentes
Comunitários da Saúde que visitam os pacientes e orientam agendamento de
consultas quando vêem necessidade de acompanhamento com o médico da área, para
ilustrar cito novamente segundo o Ministério da Saúde: “As ações educativas/preventivas e a rapidez no atendimento aos
problemas mais simples, no entanto, exigem que o sistema de saúde esteja muito
próximo das pessoas. O ideal é que consiga envolver as próprias comunidades. É
isso exatamente que faz o PSF, por meio da Equipe de Saúde da Família e da
Unidade de Saúde da Família.” Além do mais, os PSFs têm total liberdade
para realizarem seus programas e determinar o próprio protocolo de atendimento
de acordo com a necessidade da população que a área abrange. Já que a
prioridade da atenção primária é a prevenção de doenças, rastreamento, e não o
tratamento imediato de sintomatologias que se faz em um pronto atendimento, com
isso, o ministério da saúde diz que “O
PSF fortalece as ações de prevenção da doença, promoção e recuperação da saúde,
de forma integral e contínua”, esta continuidade seria praticamente
impossível na livre demanda em que nem sequer podemos agendar um retorno para
seguimento do paciente. Em 2 dos PSFs que atendi na cidade, o agendamento
sempre funcionou adequadamente, sendo que nunca faltou consulta a nenhum dos
pacientes da área que necessitassem de atendimento, sendo atendidos até mesmo
pacientes não agendados, nos casos de urgência e emergência, se necessário. A
generalização de que o sistema não funciona a todos os PSFs deve ser repensada.
3 - Médicos contratados e
concursados, não devem ter distinção de tratamento, pois ambos têm a mesma
formação e exercem a mesma função. Contudo, vemos que a cobrança do cumprimento
dos deveres é feito de forma injusta e o Secretário da Saúde sequer conhece
quem são seus funcionários, os que realmente trabalham, cobrando destes médicos
empenhados o que deveria ser cobrado de outros. A punição como exemplo aos que
não cumprem, é a melhor forma de se fazer valer os deveres de cada
profissional. Em reunião feita na Secretaria da Saúde, apenas dois médicos do município
compareceram, e esta reunião deveria ser de tal importância que a presença
fosse obrigatória, e não apenas um convite, sem deixar de citar que foi
agendada reunião mesmo sabendo que um dos médicos estava de férias e não
poderia comparecer. Todos devem ter acesso aos seus direitos, direito de se
defender pessoalmente quando é mal falado, e ter acesso aos deveres a serem
cumpridos para que a
saúde funcione
como se espera. É extremamente decepcionante exercer seu papel integralmente,
não ser reconhecido e ainda ter de se dispor a ouvir o que deveria ser dito a
quem realmente age incorretamente.
4 - Existe a perseguição aos médicos
contratados, dentro da própria Unidade de Saúde, pois os profissionais
concursados (enfermeiras, etc), preferem trabalhar menos e querem prejudicar
quem cumpre religiosamente com seu compromisso assumido, apesar de o médico ser
elogiado pelos próprios pacientes da sua área.
Levando-se em consideração
esses aspectos, vemos a importância
de um Secretário da Saúde atuante, exercendo fielmente o seu papel e se
capacitando constantemente antes que qualquer cobrança seja destinada a outros
cargos.
Respeitosamente,
Bruna
Gimenes Rolim
Médica
Prestadora de Serviços ao Município de Nova Esperança