quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Na Capelinha... Com uma Nova Esperança

Rigonato
Publicado na Revista A REGIONAL - Edição 005 - Fevereiro de 2010.

Menina que deixou o nome de cidade
Mas ganhou status de “sentimento”
Capelinha hoje é saudade
É abraço, é colo, é renascimento
É quando o amor se transforma
Num perfeito alimento

Alimento de cheiro e gosto
Igual pão-de-mãe a alegrar
As eternas manhãs
Para me acordar
Companheira uterina
Minha infância a embalar
Ao alcance das minhas mãos
Como um livro de magia
O tempo e o espaço perdem a razão
E ao virar-lhe as páginas, só poesia
Transito entre imagens, sons
Perfumes, sabores, perfeita harmonia

Respondeu-me e responde ainda
Nas minhas mais terríveis inquietações
Nunca me abalou, nem me feriu
Protegendo-me de abismos e decepções
Sentimento de pertença a ela
Sempre com todas as emoções

Cria os mais doces horizontes
Coloca o entusiasmo que devemos ter
Sem dizer onde e quando
Cada um buscando entender
Concedendo seus seios
Ela-Mãe, é necessário compreender

O alvorecer repleto de sonhos
Nascendo atrás da Vila Silveira
Os raios do sol brilhantes
Até parecem brincadeira
Anunciam sempre um novo dia
Em nossa cidade altaneira
Terra de lirismo delicado
Minha doce Capelinha
Doce companhia... Anjo que me acolhe
A beleza dos crepúsculos à tardinha
O horizonte, num tom rosa-violeta
O sol que cai pelas bandas da Santa Terezinha

O véu noturno que a cobre
O silêncio e meditação
Lampiões, Lamparinas, velas
Espantam a escuridão
Pois só duas horas por dia
Funciona o “motorzão”
A beleza se insere também
Nas diferentes faces de sua gente
No milagre do sorriso, da saudação, do abraço
Do toque, do beijo, do olhar comovente
Em todos se percebe
Uma dádiva, um presente

Muito próxima da fronteira do Céu
Hóspedes privilegiados a circular
Pisando suas ruas, dobrando suas esquinas
Duas belas avenidas, em cruz a abençoar
A praça central
Óvulo aberto, pronto a fecundar
No inverno fogueiras juntam pessoas
A reza, o terço, a fé
João, Pedro e Antonio
O medo da geada no café
Do Shangri-lá até a Regina ou o fim da Brasil
O frio congelando desde o pé

No verão, confunde-se o brilho do olhar
Com o do sol, caloroso
As calçadas se tornam salas
Das laranjeiras, fruto delicioso
Florzinha-de-são-joão, juás
Maria-preta e capim amargoso
Quando me proponho andar
Por seus caminhos
Um pequeno mundo que alegra
Pura grandeza, sem espinhos
Paisagem ampla, aberta
Arvores repletas de passarinhos

Entre tantas belas árvores
A magnífica peroba, imponente
Folhagem mudando de verde-escuro
Para marrom-amarelado em tom ardente
Conforme brincam a luz e o vento
Igual seus filhos, busca os céus, impaciente
O barro da abençoada terra
Após chuva ou tempestade
Em cada passo grudando nos pés
Surgem no céu com simplicidade
As mariposas e os pássaros
Buscando a claridade

Antepassados que se foram
Que pisaram essa terra tão amável
Forjaram vidas a ferro, a fogo, a amor
De modo digno e confiável
Personagens reais que saudamos
Num jeito de amar incomparável
Grandes sábios, iguais a Sócrates
Doutores nas esquinas, cheios de nobreza
Mestres em salas de aula
Um exemplo de vida e beleza
Artistas em casa na educação dos filhos
No trabalho, professores de rara destreza

Com todas as possibilidades da sintaxe
Capelinha faz parte
Das palavras com pronúncia
Igual objeto raro, uma arte
Uma solenidade em cada letra
Da linguagem, porta-estandarte
As cores do arco-íris
Suas sílabas parecem habitar
Palavra cheia de fascínio
Visão de flores, imagem a me aguçar
Tanto quanto amei na infância
Continuarei a lhe amar

És um bem de altíssimo valor
De Deus um sorriso juvenil
Concedido no meio do século XX
Nesse mágico pedaço do Brasil
Debaixo do Cruzeiro do Sul
Neste céu sempre cor de anil
Sorriso que eternamente
Floresce igual flor
Nas faces dos homens e mulheres
Geração após geração, com resplendor
Verdadeiros artistas da Vida
Do trabalho e do Amor

Crianças, jovens, adultos e velhos
Como pétalas de rosa circundam
Participam do brilho
Em cada momento inundam
Tal qual milagre fecham as cordas do tempo
Vivem a eternidade, fecundam

Essas imagens retornam e “falam” comigo
Uma linguagem inesquecível
Quando parado em suas esquinas
O vento traz um som divinamente audível
Diante do mundo que contemplo
Igual o filho observa a Mãe... Compreensível

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