segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Beto enfrenta transição complicada

Beto enfrenta transição complicada“Talvez, como ocorreu na Argentina, fosse o caso de antecipar a posse do novo governador para evitar que o Paraná acabe”. A frase é do ex-governador Roberto Requião, comentando a performance do sucessor e ex-vice-governador, Orlando Pessuti, a frente do governo do Estado.

Requião remete ao episódio em que o ex-presidente argentino Raul Alfonsin, da União Cívica Radical, abalado pela hiperinflação, pelo desgaste político provocado pela anistia aos crimes políticos da ditadura, não viu alternativa que passar o poder seis meses antes do previsto a Carlos Menem, da ala direita do peronismo.

A tirada do ex-governador poderia parecer apenas mais uma alfinetada ácida no sucessor, que vem se empenhando em uma rancorosa campanha para desmerecer seu governo, eliminar todos os assessores mais fiéis e colocar em dúvida o seu legado.

Mas uma leitura mais cuidadosa da conjuntura política paranaense sugere que a estocada de Requião sobre Pessuti é mais fundamentada e menos leviana que pode parecer à primeira vista.
Na reta final de seu curto mandato, iniciado no simbólico primeiro de abril, e com data marcada para terminar em 31 de dezembro (daqui a meros 52 dias, portanto), Pessuti se entregou a uma orgia administrativa, a uma fúria legiferante cada vez mais difícil de entender dentro de um conceito de normalidade e lisura.
O novo Pessuti passou por cima da figura do homem cordial que sempre cultivou para começar a criar transtornos de toda natureza para o processo de transição, dificultando o trabalho dos assessores do governador eleito, o tucano Beto Richa.

Além de dificultar, a pretextos diversos, que os assessores do futuro governador tomem pé da situação do governo, Pessuti passou a enviar uma avalanche de projetos para a Assembléia, quase todos gerando despesas e comprometendo receitas do futuro governo.

Mais grave ainda, as iniciativas de Pessuti, todas elas, envolvem pesadas quantias em dinheiro ou se movem em direção aos cofres de entidades ligadas ao governo do Estado.
Dias atrás se falava na eminência da degola de conselheiros da Sanepar que, além de ligações com o ex-governador Roberto Requião, eram contrários ao pagamento de imediato de dívidas milionárias e duvidosas contraídas junto a poderosas empreiteiras.

Pessuti também se movimentou para lançar mão de recursos da ordem de quase meio bilhão de reais que estão nos cofres da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina.
O governador eleito, Beto Richa, parece surpreendido com a forma pouco republicana que está se dando a transição e, mais ainda, com a voracidade com que Pessuti se movimenta em direção aos recursos financeiros do Estado no apagar das luzes de seu governo.

Em lugar de uma transição pacífica e civilizada, conforme se antevia com a saída de Requião e a assunção de Pessuti, o que se vê é uma frenética articulação política nos bastidores para que Pessuti não comprometa a futura administração com movimentações temerárias quando não claramente suspeitas.

O próprio Beto Richa, que se vê forçado a enfrentar um Pessuti transfigurado, de homem cordial em figura com um lado sinistro, tem problemas a resolver em suas próprias fileiras.

Beto terá maioria na Assembléia e poderá colocar na Presidência o deputado que melhor lhe convier. O nome que tem ocupado as rodas políticas, por enquanto, é o do deputado tucano Valdir Rossoni.
O problema é que Rossoni participou da Mesa da Assembléia - aquela que sofreu uma espécie de derretimento moral sob o fogo da série de reportagens da Gazeta do Povo/RPCTV intitulada “Diários Secretos”. O próprio Rossoni saiu chamuscado daquele episódio.

Pior ainda é o caso do deputado Durval Amaral, do DEM. Na bolsa de apostas do secretariado de Beto, Durval aparece para ocupar a Secretaria da Fazenda e, como tal, será o homem que deverá desenredar a maçaroca de imbróglios confusos e suspeitos deixados por Pessuti.

Amaral, porém, foi envolvido num depoimento explosivo pelo doleiro Alberto Youssef no escândalo da Olvepar, ocorrido em 2002, durante o governo de Jaime Lerner. Segundo esse depoimento, o deputado, que era líder do governo na Assembléia, teria recebido dinheiro vivo numa caixa de sapatos para silenciar sobre o caso.

Premido entre Pessuti e aliados com passado complicado, o governador eleito está enfrentando uma transição bem mais complicada que esperava.
Postado por horahnew

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